16 de maio de 2018

MANIFESTO DO PROJETO TONINHAS SOBRE A CONCESSÃO DA LICENÇA AMBIENTAL DE INSTALAÇÃO DO TERMINAL GRANELEIRO BABITONGA



O Projeto Toninhas vem a público manifestar sua posição contrária à concessão da Licença Ambiental de Instalação do Terminal Graneleiro Babitonga (TGB) pelo Instituto de Meio Ambiente de Santa Catarina (IMA), ao qual teve acesso no final do mês de abril. O Estudo de Impacto Ambiental (EIA) que baseia a decisão, assim como os documentos complementares fornecidos pela empresa de consultoria Acquaplan, não apresenta dados consistentes com relação aos impactos que o empreendimento causará à produção pesqueira e às espécies ameaçadas de extinção, o que compromete a análise da viabilidade ambiental do empreendimento. Os impactos estão subestimados, com medidas mitigatórias totalmente irrelevantes sendo propostas, o que leva a um entendimento equivocado dos riscos. A decisão do órgão ambiental põe em risco todo o ecossistema da Baía Babitonga, em especial a sobrevivência das espécies ameaçadas de extinção neste ecossistema. A análise técnica feita pelo projeto indica que, caso este empreendimento seja instalado, existe um risco muito elevado de extinção da população de toninhas da Babitonga.
O conteúdo da LAI nos permite concluir que a obra autorizada pelo IMA compromete de maneira irreversível o ecossistema da Baía Babitonga, considerado um berçário da vida marinha por ser área de reprodução para um grande número de espécies de peixes e crustáceos, além de refúgio para espécies ameaçadas de extinção. O local escolhido é o canal de Laranjeiras, localizado na região central da baía, junto as ilhas (ao lado do ferry-boat). Esta é considerada a região mais produtiva da baía, o que se reflete na intensa atividade de pesca nesta área, inclusive de camarões, e na grande concentração de botos-cinza, toninhas, tartarugas e meros. A retirada de um milhão e meio de metros cúbicos de sedimento e trezentos mil metros cúbicos de rocha desta área em operações diárias ao longo de sete meses, atividade necessária para viabilizar o acesso de navios de grande porte e construção de um píer com mais de 1 km de extensão, não pode ser considerado ambientalmente viável nessa região.
Segundo a LAI, a dragagem deverá ocorrer 24 horas por dia, e a derrocagem das rochas deverá ocorrer por meio de 12 explosões diárias, com remoção das rochas acontecendo 24 horas por dia. Estas atividades são de altíssimo impacto, comprometendo toda a fauna. Somadas a elas, ainda estão previstas várias outras atividades associadas, como a fixação de estacas para a construção do píer. Naturalmente, a dragagem será uma necessidade constante nesta região para manter a profundidade do canal de acesso dos navios, o que representaria um impacto permanente para a região.
Causou grande surpresa à equipe o fato de que seu parecer técnico, encaminhado voluntariamente, não tenha sido considerado. A equipe tem uma experiência de 20 anos em pesquisas com cetáceos nesta área, e entende que esta conduta gera ainda mais dúvidas sobre a seriedade do processo. Os dados apresentados pelo projeto indicam que a área diretamente afetada pelo porto é área de vida de toninhas e botos-cinza, espécies ameaçadas de extinção, o que legalmente deveria inviabilizar a concessão de uma licença com impactos desta magnitude.
As toninhas (Pontoporia blainvillei) da Babitonga formam uma população residente, única no mundo. Embora as redes de emalhe sejam a principal ameaça para a espécie ao longo de sua distribuição, a construção deste porto pode ser considerada como a principal ameaça à sobrevivência da espécie na Babitonga, já que esta população é totalmente dependente da baía. A área que será impactada pelas atividades do porto faz parte da área de vida das toninhas.
Juntamente com as toninhas, populações residentes de botos-cinza (Sotalia guianensis), tartarugas-verdes (Chelonia mydas) e meros (Epinephelus itajara), todas espécies ameaçadas de extinção, também vivem no local que será atingido pelo empreendimento. As explosões previstas pelo TGB, assim como as dragagens, representam um risco muito alto de morte para estas espécies, pois a área atingida é local de concentração e não há técnicas eficientes para a retirada destes organismos. A mortalidade associada a estas atividades está bem documentada na literatura científica.
Na década de 1990 foi registrada a extinção do golfinho baiji, que vivia nos rios da China, como consequência das profundas alterações causadas ao seu ambiente. As toninhas da Babitonga poderão seguir pelo mesmo caminho.
Enquanto pesquisadores desta região, com experiência de 20 anos nas pesquisas com cetáceos, temos o compromisso de manifestar nossa posição técnica em relação ao empreendimento TGB e respectiva Licença Ambiental de Instalação, que autoriza sua construção. Entendemos também que o órgão ambiental necessita reavaliar sua posição, ainda mais quando declara publicamente que tem o interesse em criar uma unidade de conservação de uso sustentável na região. A liberação de licenças para empreendimentos com este nível de impacto na Baía Babitonga não é coerente com o nível de conservação que este ambiente deve ter devido a sua imensa produtividade e como local de espécies ameaçadas de extinção.
A Baía Babitonga, com seu rico ecossistema, é um patrimônio de toda a comunidade.
Em breve será disponibilizado um parecer técnico detalhado.