1 de agosto de 2018

Repelente acústico pode ser aliado na conservação do golfinho mais ameaçado do Brasil


Pesquisadores do Projeto Toninhas testam equipamento para afastar toninhas das redes de pesca


Pesquisadores do Projeto Toninhas/Univille finalizaram no último mês os primeiros testes com um repelente acústico na Baía Babitonga, no litoral sul brasileiro. O equipamento, chamado “Banana Pinger” (Fishtek Marine®), emite sons de alta frequência na tentativa de afastar os golfinhos de uma área de risco ou, neste caso, das redes de pesca. A esperança dos pesquisadores é que o equipamento reduza a mortalidade incidental em redes de emalhe, principal ameaça à toninha (Pontoporia blainvillei), o golfinho com maior risco de extinção do Atlântico Sul Ocidental. 


 O experimento, projetado pelo Dr. Mats Amundin (Kolmardem Djupark – Suécia) com incentivo da ONG alemã Yaqu Pacha, é inédito no Brasil. De acordo com o pesquisador do Projeto Toninhas, Renan Paitach, que desenvolve com o pinger sua tese de doutorado na Universidade Federal de Santa Catarina, outras marcas e modelos de pingers já foram testados para a toninha. “Embora alguns tenham apresentados resultados promissores, foram reprovados por pescadores por atraírem focas e leões-marinhos, que destroem as redes para roubar os peixes (efeito “dinner-bell”). Este é o diferencial do “Banana Pinger”: ele produz um som que não é audível para os pinípedes” explica o pesquisador.

Na fase de testes, o pinger foi posicionado dentro de uma grade de equipamentos de monitoramento acústico, denominados C-PODs (Chelonia Limited) - uma espécie de hidrofone que registra sons emitidos por golfinhos - que monitoram a presença de toninhas e, consequentemente, a resposta comportamental ao som emitido pelo pinger. Paitach declara que, mesmo na fase inicial, um efeito claro tem sido observado. “Quando o pinger está ligado, há uma retirada imediata, que pode ser observada a até 100m de distância, mas não mais do que isso. Quando o pinger está desligado, as toninhas retornam à área poucos minutos depois. Isso nos faz acreditar que o método é efetivo para toninhas, pois não altera seu comportamento em relação ao habitat onde vive”.  

Para a coordenadora do Projeto Toninhas, Marta Cremer, o experimento configura um grande avanço em prol da conservação da espécie. “Desde seu surgimento, o Projeto Toninhas/Univille, que conta com patrocínio Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental, tem direcionado esforços para conhecer melhor esse golfinho e busca alternativas para sua conservação, sempre levando em consideração as necessidades das comunidades locais”, comenta Marta, que completa: “medidas efetivas para a conservação da espécie não são simples e devem conciliar diferentes estratégias, como o ordenamento pesqueiro e o uso de tecnologias para a redução das capturas acidentais”. 


A fase de teste segue e o próximo passo é começar a implementar o uso do Banana Pinger em redes pesca. Para isso será necessário a participação das comunidades pesqueiras locais, que voluntariamente podem auxiliar nas pesquisas. Para os pesquisadores e parceiros do Projeto Toninhas, a conservação da espécie é uma preocupação de pescadores, gestores e conservacionistas e, portanto, a busca por soluções deve ser feita de forma participativa.